sábado, 27 de dezembro de 2008

Solidariedade só aos catarinenses?

Muito se comentou nas últimas semanas sobre a solidariedade do povo brasileiro para com as vítimas das chuvas em Santa Catarina.

O caso é de fato notável e merece aplauso, pois a atitude solidária consiste em abrir mão de algo em favor do semelhante que se mostra necessitado.

Mas algo me intriga: por que não temos essa mesma capacidade caritativa também em relação aos que passam fome, sede, frio ou não tem onde morar durante o tempo todo, e não apenas após esse tipo de catástrofe?

Parece-me que as vítimas catarinenses gozam de uma vantagem em relação àqueles que passam fome na porta das nossas casas. É que pessoas que viviam uma vida "normal" e que foram atingidas por uma catástrofe natural ganham de nós um juízo de que a situação por que passam é injusta. Afinal, - pensamos - poderíamos ser nós mesmos.

Classificar um acontecimento como justo ou injusto é inevitável na nossa condição, mas, a bem da verdade, é exercício impossível de se fazer com precisão. Mais ainda, entender algo injusto significa duvidar da existência de um Deus onisciente e onipotente.

Catarinenses atingidos e mendigos da nossa porta só vivem o que vivem porque assim a Divina Providência entendeu ser o melhor. Na verdade, esses são os exatos pontos a que a lei de causa e efeito os levou, segundo seus atos pretéritos.

A questão é que não conhecemos os fatos anteriores desse jogo de causas e efeitos e nos apegamos ao pouco que enxergamos: pensamos que o mendigo poderia ser um trabalhador, enquanto o barriga verde (para quem não sabe, esse é o gentílico dos nascidos em Santa Catarina) o era...

Qual a conclusão? Devemos concluir que não devemos ajudar as vítimas de SC porque, afinal, elas vivem o que merecem e foram levadas ali pelo seu livre-arbítrio, no sistema da causa e efeito? Claro que não!

A conclusão é que quem quer que sofra conta com a misericórdia divina, que operará na maioria das vezes por meio das mãos humanas que resolvam agir em nome do bem. E que não nos compete medir se quem sofre merece ou não sofrer, se devemos ou não aliviar o sofrimento de quem pudermos.

O ideal é que façamos opção por fazer o bem a quem quer que necessite, pela crença absoluta de que a dor no mundo é escola de redenção e que o alívio oferecido é sempre oportunidade de reparar equívocos passados, feito a favor de quem quer que seja.

Quem sabe, na ação humana que busca atenuar o sofrimento alheio reside o maior progresso que o homem pode alcançar, não importando a origem da dor. Importa sim, a capacidade de empatia com o sofrimento do outro e a consequente capacidade de lhe valer, como quer que seja.