quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O maior brasileiro de todos os tempos - será que isso é legal?

Nas últimas semanas recebi diversos e-mails de amigos e instituições espíritas falando sobre o concurso que estava sendo realizado pelo SBT para a escolha do "Maior brasileiro de todos os tempos".

Nunca me soou como algo que fizesse sentido, mesmo eu não tendo visto ainda o programa.

Mas ontem à noite, "zapeando", vi o tal programa que estava em sua "final". Assisti por cerca de 10 minutos. E minha conclusão foi de que não faz mesmo muito sentido.

Entendo que as pessoas que se mobilizaram pela "eleição" de Chico Xavier como maior brasileiro de todos os tempos o fizeram de boa vontade e coração aberto. Mas me pergunto se não há, no fim das contas, um desvio de perspectiva.

Chico, como Jesus, pregava a humildade. A lógica cristã pressupõe fazer-se servo do próximo, nada exigir em troca, doar amor. Reconhecimento? Nunca será o objetivo de nenhum cristão verdadeiro e, se incidentalmente ocorrer, deverá ser transformado em prática do bem, sob pena de causar constrangimento ou conduzir o candidato a cristão a estacionar na vaga da vaidade.

Sinto que as pessoas parecem ter sido movidas pela gratidão, algo muito bonito. Mas será essa a forma ideal? Será que o Chico está à espera ou se compraz com homenagens na TV ou em outras organizações mundanas? E será que a par dessa gratidão não existe uma certa vaidade de se tentar gritar pro mundo: "vejam como o cara da nossa religião é muito legal!"

Vale refletir sobre a passagem do próprio Jesus pelo mundo. Em muitas oportunidades ele demonstrou que não estava "nem aí" para as instituições mundanas. Quando teve oportunidade Ele disse para os prepostos romanos que aquele império era "fraquinho" e em breve pereceria; mandou dar ao mundo as coisas do mundo, e a Deus as de Deus; e, quando o perguntavam sobre o seu Reino, ele dizia: "Meu Reino não é desse mundo".

Por outro lado, quando um discípulo de Jesus tentou fazer com que o mundo compreendesse sua importância por meio de seus poderosos, acabou o entregando por algumas moedas.

Fico pensando: como terá ficado o Chico no plano espiritual ao ser eleito o "maior brasileiro de todos os tempos"? Orgulhoso com sua conquista e vibrando entre palmas, urros e abraços com seus pares, em frente de uma tela? Ou será que seguiu em sua serenidade lapidada pelo trabalho, quem sabe até constrangido por termos utilizado em eleição de utilidade duvidosa, que pretende colocar os homens em fila de importância, o seu exmplo de amor? Tudo, é claro, devidamente lastreado por patrocínios e interesses comerciais. Ou alguém duvida que muitas pessoas ganharam dinheiro com isso?

Penso que presta uma boa homenagem ao Chico aquele que se posiciona em atitude de ânimo e servidão perante o próximo, trabalhando para servir e auxiliar o coração alheio, despindo-se dos interesses mundanos e se alinhando ao modo de ser cristão.

Quem se habilita a prestar essa homenagem?