Liberdade, igualdade e fraternidade são os três princípios que melhor sintetizam as aspirações do mundo moderno.
Para alguns, foi a forma laica encontrada para substituir a trindade católica do Pai, do Filho e do Espírito Santo, desde que a sociedade ocidental, para caminhar com pernas do próprio livre-arbítrio, se libertou do jugo de um pretenso Deus exigente e que concedia parcela de seu poder a uns poucos reinóis.
Logo após as Revoluções do século XVIII, predominou o princípio da liberdade, eximindo-se os Estados o quanto possível das intervenções nas sociedades. O excesso de liberdade, porém, deixou duras marcas, emergindo as formas de organização social mais degradantes da dignidade humana até hoje conhecidas, no contexto das Revoluções Industriais, em que o homem explorava o seu igual ao limite extremo.
Tomou corpo no final do século XIX e início do XX, então, uma maneira diferente de pensar, voltada para a discrepância social estabelecida e preocupada com as condições em que estavam lançados os indivíduos, de maneira que os Estados foram instados a interferir na organização humana com vistas a garantir um mínimo existencial a todos, numa tentativa primeira de universalização dos valores básicos como saúde, transporte, alimentação.
Mesmo assim, as sociedades continuaram cambaleantes em sua organização e as monstruosas grandes guerras demonstraram como conceitos corretos, se interpretados equivocadamente, podem conduzir nações inteiras ao despautério e ao desequilíbrio. Ademais, ainda que dentro de uma mesma sociedade, a contraposição das experiências capitalista e socialista permitia entrever o quanto liberdade e igualdade, em última análise, são valores antagônicos, sendo um cerceador do exercício do outro, e restando sempre ao arbítrio dos grupos que liderassem cada país definir uma orientação de maior liberdade, com enormes diferenças sociais, ou de maior igualdade, com o cruel sufocamento das liberdades.
Ambas as experiências extremas, contudo, mostraram - e seguem mostrando - o quanto a liberdade ou a igualdade, sozinhas, carecem de orientação para que possam guiar sem desequilíbrio o curso das experiências de um povo.
Assim, após mais de 2 séculos de fixação sofrida da igualdade e da liberdade, eis que a fraternidade passa com mais vigor a penetrar gradual e profundamente nas organizações humanas, sendo paulatinamente evocada e aplicada na busca de soluções para o "universo" de problemas que o mundo enfrenta.
Valor destinado a dosar os outros dois, cumpre a fraternidade o vital papel de equilibrar, em cada contexto, a conduta adequada, permitindo que igualdade e liberdade sejam elementos em saudável cotejo para o equilíbrio das relações humanas.
A fraternidade consiste no estabelecimento do laço de irmãos entre pessoas que não o são do ponto de vista físico. Pautadas por ela, uns homens estendem seus braços aos outros, doando um pouco de sua liberdade ou de sua igualdade, pois compreendem a necessidade do próximo e se realizam, por meio do princípio fraternal, ao disporem livre e conscientemente do que já possuem em favor dele.
Dos três vértices desse triângulo, a fraternidade ocupa o superior. É responsável por mediar a tensão inevitável entre liberdade e igualdade, e o faz de maneira calma e serena, pois atua para conferir a cada um a condição de enxergar, por si mesmo, a melhor forma de manejar os valores do mundo em função do bem comum.
A pauta axiológica se integra no equilíbrio que apenas a tríade dos valores poderia oferecer, e tudo vai se tornando mais claro à medida que cada um dos princípios sai da posição de exagero. É como se o triângulo fosse deixando, aos poucos, a estranha "formação escalena", rumando ao equilátero inevitável e perfeito.
Juntos e equilibrados, esses três princípios, então, asseguram a dignidade humana e fundamentam o desenvolvimento moral das criaturas, conduzindo os homens a exercitarem o amor no auxílio mútuo a que se lançam, inevitavelmente, como tarefa inescusável dos corações dedicados ao próprio burilamento. Vem à tona, irresistível, a conclusão de que o homem é um fim em si mesmo.
Aguardemos, pois. E sejamos capazes de dar à fraternidade o século que demos à liberdade e à igualdade, e veremos do que ela é capaz.
As transformações oriundas da fraternidade já irradiam em toda a parte, conduzem a toda a gente e, sem que percebamos, já estaremos sendo carregados por ela. Já é assim.
Porque assim mesmo é a fraternidade: uma bandeira que pensamos conduzir, mas que na verdade conduz a todos nós no caminho da harmonia e da felicidade a que estamos - todos - destinados.
Mais cedo ou mais tarde, a depender de nós.
Estamos QUASE lá. Ou de alguma maneira já chegamos?
18 comentários:
sim sim sim...
muitos acreditam que a revolução francesa, e o lema que a representa, foi o início do movimento de transição da terra para o mundo de regenaração...
após 200 anos batendo cabeça entre igualdade e liberdade concordo que esquecemos a fraternidade, talvez por não a compreendermo-la...talvez por no fundo sabermos que equilibrar igualdade e liberdade pela fraternidade exigiria um olhar para além do individuo que ainda não nos tinhamos proposto a ter até então...
mas sé tem uma verdade que se destaca nesse post é isso: tamo quase...rs
e viva a alegria esperançosa que nos permite perceber isso!
abraços
Acredito que estamos e estamos buscando, um processo constante, como aquela espiralq ue o Zé sugeriu =)
Lindo post, belíssimo tudo isso, ainda estou bem sem palavras!!!!
Fiz uma postagem no mofrasoul, se tiver problems em colocar o vídeo lá, me avisa que eu tiro sem problemas =)
http://mofrasoul.blogspot.com/2010/07/que-sou-mofrasoul-2.html
abração
A propósito,
Valeu por disponibilizar o Mp3 das novas =)
Lindo o texto, Denis! Esses assuntos dão papo até o dia raiar!
Abraço!
ótimo post amigo!
O que posso dizer?
Liberdade, igualdade e fraternidade...
Hum....
Ouçam a rádio fraternidade!!!
www.radiofraternidade.com.br
rs...
"A fraternidade consiste no estabelecimento do laço de irmãos entre pessoas que não o são do ponto de vista físico. Pautadas por ela, uns homens estendem seus braços aos outros, doando um pouco de sua liberdade ou de sua igualdade, pois compreendem a necessidade do próximo e se realizam, por meio do princípio fraternal, ao disporem livre e conscientemente do que já possuem em favor dele"
Denis, adoro seus textos..mas este superou!
Estamos "Quase lá", pois o amor continua a expandir sem cessar!
Beijos!
Muito bem, amigos. Estamos aí pra trocar esses sentimentos mesmo. E, Thaís, nada pessoal com o dinossáuricos, ok? Hehehehe...
Tonho, vc sabe, fique à vontade pra replicar o material, está aí pra isso mesmo. E Rone, parabéns pelo merchan muito a propósito, hehehe...
Abraços, queridos...
Caminhamos hoje para o equilíbrio, bastando em nossa bagagem os excessos de outras épocas, estamos todos, acredito, trabalhando nossas emoções, vendo a todos como irmãos - que somos - trabalhando intimamente para que nosso universo não constitua-se além do necessário. Minimizando, quanto possível as dores de nosso semelhante, sabendo nós que a cada um será dado segundo suas obras... mas ainda assim, podemos fazer algo para alegrar essa ou aquela situação. Nisso se traduz a liberdade de ação (com respeito aos limites do semelhante), o desejo de igualdade (respeitando as leis da sociedade em que residimos, pois não estamos e não temos condições para o fazer de outra forma, seguindo mesmo as palavras de Cristo, quando disse: "não vim destruir a lei, porém cumpri-la"), e a prática do amor ao próximo (seguindo sempre as palavras de Cristo: "amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo", fechando assim um ciclo : Deus-Jesus-nós-Jesus-Deus-nós... e por aí entraríamos noutro parte da história que daria outro link...)
Muita paz a ti!
Beijo!
Cris.
Esse tema é muito doido. As vezes paro e penso sobre ele "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" e ai??!!!
Uma ? corta minha mente (mas isso é coisa de gente doida..he..he..). mas é isso... vamos fazendo o que achamos que é bom, e o que nos faz bem.
Parabens garotada o momento e de vocês...
Obs: garotada porque estão novos a frente do trabalho..he..he..he..
Denis, fio meu, bela musica....
valeu garoto
Abração
Fabiano "Fabibis"
Oieee... Dênis, que deu até pra sentir ainda mais motivada com sua música linda!!! Veio em hora mais que oportuna... Aquecer corações e renovar sempre nossos laços de amizade! Parabéns!!!
Abreijos mega, Marinão
Amigos, valeu pelos comentários mais uma vez. Mas, Fabiano, sem essa de "o momento é de vcs", pega sua enxada, rapá, hehehe..
Cris, seus comentários tem sido muito bem colocados e elogiados. Obrigado por estar conosco, e espero que vc esteja sempre trazendo sua opinião.
Bjos, queridos.
Denis, que isso, não há o que agradecer, pelo contrário, as graças aqui partem de mim, pois muito me alegro e sou grata por poder compartilhar um pouquinho de minha bagagem com vocês e sem dúvida alguma carregá-la mais e mais toda vez que por aqui passo.
Deixo então o meu muito obrigado por este espaço, e pelas palavras.
Um forte abraço e desejo de muita paz a ti e aos amigos do blog.
Cris.
Fabiano me obriga a comentar de novo...obriga porque passei 18 horas com essa pessoa sentada no banco atrás do meu, indo para a Comemofra esse ano. e eu, ele e Carol tagarelamos e filosofamos sobre diversos temas..inclusive o tema desse post. Conversas mto produtivas, muitas risadas também e eis que se instalou a revolução na cabeça de Fabiano.
Fabibis, você chegou na comemofra, disseminou idéias por toda parte, e aí, chega aqui e escreve: "e aí???"
Te respondo, parafraseando Denis:PEGA TUA ENXADA, RAPÁ!!!
rs
E se a "garotada" está aí hoje é porque antes houveram aqueles acreditaram na eficácia do trabalho , tipo você!!
Keep walking, dude!
beijos beijos
Ha, ha, ha..... Muito bom, Shandinha!
Realmente, eu tinha me esquecido disso, da revolução e certa "bagunça" que o Fabiano quis fazer nessa Comemofra, pegando justamente os "confraternistas de primeira viagem" para falar, refletir, falar e falar... Ha, ha, ha.... E aquela garotada quase que foi aos finalmentes de reunir na pracinha e botar a boca no trombone!
Pois é, ele "botou fogo" e agora fica tirando o corpo fora. Não dá, né? Vou falar com ele pra entrar aqui no blog e ver sua resposta e do Denis!
Essa sua lembrança, Shandinha, vai contribuir muito pra minha campanha "Acorda Fabibiiiiis"! Ha, ha, ha....! E como o Denis disse, "pega a tua enxada", Fa, ou, "vá tocar na casa espírita, rapá".
Denisssss, muito boa a música! Que envolvimento bom ao escutá-la!!!!!! Ah, muito legal ver também o viajante, ao fundo! Que bacana! Nem poderia imaginar que você ainda o tivesse.... A Ana Maria, que o ampliou e pintou com tanto carinho, vai ficar feliz também.
Beijos, meus amigos!!!!!
Carol - SP
Em tempo:
Quem ampliou o Viajante foi a Mamibel (ela me viu escrevendo e ficou aqui na minha orelha dizendo que foi ela). Então, créditos da ampliação para a Mamibel... He, he, he!
Beijos.
Saudades.
Carol
Entao, Carol, da um beijão meu de agradecimento pra Mamibel aí, porque eu tb não sabia da contribuição dela, hehehe...
E eu adoro o Viajante gigante, é meu mascote e agora eu até vou levar ele pra umas apresentações, hehehehe...
Bjos!!!
Olá Denis,
O texto esta muito legal, concordo plenamente quando vc diz que a Fraternidade é a mais importante desses 3 lemas. Vejo a Fraternidade como uma virtude que mais nos aproxima do verdadeiro Cristianismo, pois quando a temos exercemos a verdadeira caridade.
Muito bom o texo parabéns!
Que bom que gostou, caro amigo.
A relevância destacada da fraternidade parece que se consuma por ela ser a bússola dos outros princípios. Os outros podem se perde pelo excesso, e a fraternidade parece ter o condão de equilibrar a forma como liberdade e igualdade se manifestam.
Valeu pela visita, grande abraço!
Postar um comentário