Gostei muito do que li, pela ponderação firme, certeira, equilibrada, fundamentada e direcionada ao entendimento. E senti que, dentre os que entendem que a dança não é adequada, certamente há pessoas bem intencionadas, mas que talvez não tenham refletido suficientemente sobre o tema.
E comecei a pensar mais sobre o assunto.
Sempre me coloquei no grupo daqueles que não sabem dançar. Em festas, nunca fui capaz de levantar e investir, dessa maneira, as minhas energias.
Pensando, porém, percebi que estava enganado. Por que, afinal, o que é a dança?
Dançar é movimento. Ritmo, pulsação, vibração, sentimento. Tudo – qualquer coisa mesmo – transmudado em movimento.
Então, me lembrei que danço quando bato o pé. Danço com a boca, quando canto. Danço com os olhos, quando admiro o céu. Danço o tempo todo.
Muito mais.
Em mim, agora mesmo, todos os elétrons se movem em torno de seus núcleos. É incrível: eles são quase inúmeros, mas não erram o seu balé. Cada um tem uma função e todos as desempenham harmoniosamente. Todos estão em constante, rápido e inacreditável movimento, e não é qualquer movimento, é belo, tem um objetivo e se completa em ciclos lindos, que servem para me manter "vivo". Vai ainda além: todas as partículas subatômicas que nos compõe vibram o tempo todo. Sempre harmoniosamente.
É uma dança divina...
Então, entendi que dancei o tempo todo. Desde que era apenas parte de um gameta. Dancei muito antes, porque meu espírito, ainda duro, nunca esteve isento da matéria. Mais ainda: meu espírito mesmo, por si só, é vibração. É dança.
O Universo é uma imponderável dança...
E foi assim que concluí que Jesus também dançou. A mais bela das danças. Porque sua passagem pela Terra fez ordenar as forças que regem este mundo, organizou as aspirações dos que o compreenderam e lançou a semente de muitas outras danças. Porque, sem nos movimentarmos, não chegaremos a lugar algum na senda evolutiva. E movimento é dança. Tudo é.
Jesus não andou sobre as águas: dançou. Porque só a harmonia e a leveza podem explicar esse fenômeno tão belo, que serve para nos mostrar o quanto podemos mais quando acreditamos, sentimos e direcionamos para o bem o nosso coração.
Afinal, "a vida é movimento". E é assim que dançamos. Dançamos todos. Uns bem, é verdade. Outros, como eu.
Ontem, sentado no auditório da Comunhão Espírita de Brasília, assisti pela primeira vez ao vivo um espetáculo de dança espírita. Foram minutos céleres, repletos e belíssimos, que fizeram meu corpo querer acreditar que também poderia, além da "microdança" dos elétrons, desempenhar daquela "macrodança"... Mas isso nem era necessário.

Porque o que se viu no palco foi um balé de muita técnica, esforço, espírito de cooperação e desprendimento. Mais que isso: cheio de energia, verdade e responsabilidade com a mensagem transmitida.
Sim, havia uma mensagem, pulsante e viva, se desenhando em nossa frente como nem mesmo a melhor narrativa faria a mais imaginativa mente plasmar. Porque só ali havia outras pessoas, cada uma lançando sua energia, dando sua insubstituível contribuição, reproduzindo a mesma harmonia que os elétrons de um átomo pode, divinamente, realizar. Divinamente, dançar.
Porque podemos viver, por viver; cantar, por cantar; dançar, por dançar.
Mas podemos viver para amar, cantar para edificar e dançar para buscar mais uma forma de concretizar o belo-bom. De “artefazer o belo-bom”.
Qual é a sua escolha?
Trancar a dança ou fazer também dela um instrumento útil?
Está sendo muito bem cumprido por centenas de trabalhadores espalhados pelo Brasil o papel de viver essa arte – que não é mera opção, mas a própria apreensão do movimento Divino que domina o mundo e a vida – de uma maneira especial, com a transmissão de uma boa mensagem, no compartilhamento salutar com as almas que entram a vibrar nessa mesma harmonia.
É nossa escolha utilizá-la para dar vazão à nossa energia de maneira adequada e útil.
É mais que nossa escolha. É nosso compromisso.
Meu abraço fraternal e reconhecido a todos os companheiros do movimento espírita que se dedicam, suavemente, a auxiliar que muitas pessoas possam viver a dança numa intenção renovada e sublimada. E ajudam, também, que pessoas duras, como eu, possam, de olhos abertos, enxergar que tudo é dança. E que todos podemos.