sábado, 16 de janeiro de 2010

Sobre mocidades espíritas

Frequento mocidades espíritas desde 1995. E já me beneficiei muito desse contexto, não só na minha própria mocidade, como em muitas outras que conheci e frequentei, principalmente em Belo Horizonte.

Contudo, a partir dos anos 2002, 2003 em diante, pouco mais ou pouco menos, comecei a observar que várias das mocidades próximas experimentavam fenômeno semelhante: menor envolvimento dos jovens, diminuição do número de frequentadores e diminuição da média de idade dos participantes.

No contato com amigos que frequentavam mocidades em outras partes do Brasil, soube que tal realidade não era exclusiva de Belo Horizonte, ocorrendo em diversas cidades. Claro, havia variações de tempo e de intensidade nesses "sintomas". Mas, em regra, era possível diagnosticar o mesmo fenômeno.

Como consequencia, os próprios encontros de mocidades acabaram por registrar uma modificação no perfil e nos interesses de seus participantes, muitas vezes mais jovens que nos anos anteriores e mais ligados aos encontros em si mesmos do que aos encontros como uma extensão das atividades das mocidades.

Se isso ocorresse em núcleos isolados, poderíamos pensar em explicações locais e específicas. Mas como tudo se reveste de uma certa generalidade, penso que pode-se pensar numa explicação igualmente genérica, que explique ao menos uma parcela dessa dinâmica tão natural e inevitável.

Parece-me que a propagação de mídias e novos meios de entretenimento é a principal explicação. Tudo indica que os jovens se ligam a grupos como as mocidades espíritas muito mais como oportunidade de convívio do que pelo interesse de estudar ou ajudar o próximo. O estudo e o altruísmo costumam ser levados a sério, mas como consequencia da participação na mocidade, e não como pressuposto dela. Em outras palavras: o estudo e a caridade são, para as atividades das mocidades, uma grata extensão, e não a causa primeira de identificação do grupo.

Por isso, acredito que o maior leque de alternativas de comunicação e contato com os "semelhantes" tornou a ida às mocidades espíritas (e quem sabe a outras organizações parecidas) menos necessária, digamos, para muitos jovens. ICQ, chats, MSN, Orkut, Twiter e outras dessas ferramentas dentro de casa permitiram que as lacunas sociais fossem preenchidas de modo mais fácil e até menos trabalhoso.

Quero dizer: o ampliado acesso à Internet pode ser ao menos parte da explicação desses acontecimentos comuns a tantas mocidades.

A propósito, as próprias emissoras de tv justificam a queda de audiência de seus programas de 10 anos pra cá, apesar do aumento da população, com essa realidade das novas mídias, sobretudo as ligadas à Internet.

Os salões dos centros espíritas, por sua vez, não costumam acusar os mesmos sintomas, o que é fácil de entender: é que os "adultos" se estimulam a estarem ali por outros motivos, diferentes desse que costuma impulsionar o hovem, que é mais ligado ao relacionamento social com seus iguais.

Enfim, eis uma tese.

Isso tudo é só uma tentativa de diagnóstico. Efetivamente, as mocidades precisam se reinventar e não me parece haver nada de indigno em se "disputar" a atenção dos jovens para o que acontece dentro delas (mocidades). E isso, é claro, sem pieguismos, de querer justificar a utilidade de estar ali, para os jovens, utilizando-se bordões.

"Fora das mocidades há salvação", e a questão é só de tornar a mocidade uma alternativa suficientemente interessante para chamar a atenção dos jovens, se é que entendemos haver, ali, boas coisas pra se fazer. Afinal, por meio da participação numa mocidade pode ser lançada uma semente fundamental na vida de algum jovem, sobretudo porque após a juventude costuma haver um hiato na busca por uma "espiritualidade", posto que as tribulações de quem está envolto nos estudos, iniciando a carreira profissional e organizando a vida familiar costumam deixar pouco tempo pra esse lado, que é tão importante.

Muitas vezes, apenas quando a vida se organizar melhor, ou quando certos problemas aparecerem, é que essas pessoas "já não tão jovens" procurarão as Casas Espíritas (claro, se essa for a afinidade delas, mas podem ser outras religiões etc). E se tiverem passado pelas mocidades, terão muito mais chances de não resumirem sua participação adulta à assistência de palestras, lançando-se ao trabalho com maior disposição.

Coloco o tema ao conhecimento dos amigos porque sei que ele é comum ao cotidiano de muitos, e porque certamente é possível aperfeiçoarmos nosso trabalho se tivermos em vista um objetivo, em paralelo com uma visão dos possíveis obstáculos.

Uma relevante meta, a meu ver, é o desenvolvimento da espiritualidade no indivíduo. E a dificuldade é o laço tênue que os jovens, principalmente, têm estabelecido com as Casas Espíritas.

Eis o desafio. Quem se habilita?

16 comentários:

Anônimo disse...

Denis,

Concordo em generalizar essas questões, por muitos lugares que andei encontrei por vezes as mesmas situaçoes. Acredito que as casas espiritas têm dificultado muitas vezes os caminhos até mesmo dos jovens. O tempo vai passando e é como se as casas espiritas parassem no tempo, desde sempre vemos tudo do mesmo jeito. Nao me refiro só a mocidade, mas me refiro também a evangelizaçao infantil,as casas nao têm promovido atividades e nem aberto as portas para o novo momento que a humanidade se encontra, acredito sim, que deveria haver uma luta para que a vontade que tinhamos antigamente em frequentar uma casa espirita com os amigos que lá encontravamos para falar de jesus volte, para que os jovens de hoje sintam a casa espirita como o segundo lar, e muitas vezes até mesmo o primeiro lar, um lugar reconfortante que possa oferecer forças e esperanças para um mundo melhor....mas infelizmente é muito raro encontrar um lugar como esse atualmente.....assim quebram-se laços que poderiam ser uteis para um bem maior...

LP

Denis Soares disse...

Olá, caro LP.

Sua percepção de que muitos de nós não temos mais hoje na Casa Espírita aquele segundo lar de antes parece ser procedente. Ouço algo semelhante de muitas pessoas.

Uma coisa pra mim é certa: a casa espírita tem que ser um lugar de portas plenamente abertas. Anda-se burocratizando muito a relação do frequentador com a instituição. Muitos cargos, hierarquias... e menos espontaneidade.

Como não existe solução sem a identificação do problema, acho que está aqui um ótyimo jeito de começarmos, de modo que possamos estar atentos, nós mesmos, pra oferecer esse clima de fraternidade de amizade aos amigos que conosco ombreiam na casa espírita ou fora dela.

Grande abraço!

Roney disse...

Vejo que isto é algo bem comum hoje amigo Denis, falta algo há mais, e além de vários fatores, há o fator individual de cada mocidade e a forma que estão olhando para ela, pois há algumas mocidades muito fechadas para novidades, o que não deveria...

Esta mudança deve ser algo em conjunto, algo que deve ser levando para discussões dentro da casa, pois o tempo em uma mocidade é algo valioso demais.

abraços fraternos!

Sader Chambela disse...

É meu amigo Denis! Questão difícil essa...

Mas observo que, mesmo com todas essas facilidades de comunicação (e são muitas), os jovens ainda sentem essa necessidade de reencontro pessoal, não só com companheiros de outras cidades nos Encontros Espíritas, mas com os do próprio grupo. Então acredito que as Reuniões de Mocidade devam promover não só a oportunidade de encontro na Casa Espírita, mas expandir esses encontros para outros ambientes em outras atividades salutares (assistir um filme, fazer um passeio, um movimento artístico, etc).

É claro que o papel do Coordenador de Mocidade muda e passa a exigir que ele saia do comodismo, participe da vida, das alegrias e dificuldades daqueles jovens fora desse horário determinado da reunião de mocidade.

Vejo nas crianças "difíceis" da evangelização, nos jovens "rebeldes" das mocidades, nada mais que criaturas necessitadas de atenção, de alguém que as escute, brinque, que esteja disposto a entregar-lhes o tempo. Alguém que seja mais do que aquela pessoa que preparou o estudo e tem que passar determinado conteúdo. Alguém que confie neles e que eles vejam como amigo, que respeitem, mas possam se abrir, conversar, sem apresentar o autoritarismo dos pais, sem a arrogância dos professores.

Não encontramos crianças e jovens brincando "A moda antiga", a carga de responsabilidade e atividades é muito grande e começa cada vez mais cedo, então enquanto a Casa Espírita continuar apresentando a proposta de ser mais um "ambiente escolar" para o jovem, eu acredito que a evasão continue.

Crianças, jovens, adultos, todos gostam de aprender, ouvir coisas novas e interessantes... porque não acrescentar a isso um ambiente agradável, de responsabilidade, claro, mas descontraído, um local onde se encontrará amigos.

Abraço forte a todos,
Sader - Ubá, MG

Roney disse...

Amigo Sader, é isto mesmo. Como eu disse na msg anterior, um encontro entre o coordenador da mocidade e os responsáveis pela casa podem dar frutos para novas idéias, estas que irão cativar mais os jovens promovendo uma melhor interação, criando laços não só de amizade, mas de vontade, fazendo a mocidade se algo cativante o suficiente para o jovem entender o quanto é agradável para o corpo e importante para o espírito sair de frente de um computador que aprisiona ( digo por experiência própria...kkk)

Para continuarmos a conversa, o que acham que hoje, em tempos "modernos", poderia ser colocado na mocidade para dar uma vida nova ao encontro?

Denis Soares disse...

É, meus caros, é isso. Vcs têm razão em indicar que existe jeito, que é uma questão de tempo, de prioridade, de atenção...

Quer dizer, a primeira conclusão é essa: há soluções para que esse sistema todo seja algo mais interessante. Vamos, então descobrí-las.

Eu penso, Roney, que as mocidades tem que ser acima de tudo participativas. Todas as mídias hoje se preocupam com a participação das pessoas, e isso não é por acaso (vc decide os eliminados do big brother, manda videos pros jornais essas coisas).

Então o modelo de organização das mocidades eu acho que deve priorizar a participação mesmo, efetiva, mesmo pra aqueles que estão chegando. Há uma premissa: todos tem com o que contribuir, o que contar etc.

Outra coisa que me parece legal é não termos pieguismos ou moralismos, como ficar, por exemplo, cruficiando o Big Brother. Às vezes o jovem chega e vê um pessoal falando que quem assiste Big Brother é sem cultura... e ele assiste. Não poderia ser pior.

As coisas do mundo não estão aí pra serem peremptoriamente condenadas. Vamos analisar. Que é melhor: ficar em casa vendo BBB ou estar na rua com companhias duvidosas? Tudo pode ter sua utilidade.

Enfim, são muitas coisas. E eu sempre penso tb que os temas básicos do Espiritismo, conforme a faixa etária, devem ser trazidos de um modo cotidiano. A busca hoje não é pela informação em si, que está disponível pra quem quiser. O desafio é tornar essa informação interessante e xontextualizá-la adequadamente.

Bom, é isso meus caros, são sugestões. Agora vcs dão as de vcs.

Abração!


Denis

Fabiano Nobre disse...

Assunto complicado esse!!!!....

Será que temos uma parcela de responsabilidade nessa atual situação que as mocidades vem passando????

Talvez!!??? Quem sabe!!???

As vezes acho que tudo isso faz parte de algum processo muito doido...como nosso amigo Denis nos lembrou isso vem ocorrendo em varias mocidades de todo Brasil...

E o interessante que esse assunto deixa mais claro a falta de introsamento entre a mocidade e a
Coordenação da Casa Espirita...

Na maioria das vezes as pessoas que são responsaveis pelo estudo da doutrina, não sabe o que acontece dentro da mocidade.

É amigos, se formos parar para analisar, tá tudo muito doido dentro do centro espirita e com nós mesmos...


Grande abraço...

Fabiano Nobre

Denis Soares disse...

Fala, Bibes!

Cara, a gente que viveu tão intensamente o contexto das mocidades, às fica até meio saudosista, essas coisas.

Mas não é isso. É realmente uma coisa de olhar e pensar: alguma coisa no mundo mudou, de forma que a realidade hoje é diferente e isso tem causas e consequencias.

Então nosso papel, ao meu ver, não é o de fazer as coisas como antes. Mas de aproveitar nossa bagagem pra entender as mudanças e "calcular" o que pode ser bom se implantar no sistema atual, a partir das experiências do passado, pra que todos ganhem.

O que eu diria é que com essa história toda há "Mão-de-obra" qualificada disponível por aí e que seria muito legal se esse pessoal se envolvesse, com o olhar de quem está em busca de tornar a experiência mais profunda e útil pra vida das pessoas.

São aquelas discussões intermináveis, né?

Abraço, meu caro!


Denis

Sader Chambela disse...

É amigos.. acho ótimo que estejamos focados nas questões da evangelização...

Aqui em Ubá observo que o que tem trazido e mantido os jovens e crianças interessados nas aulas é estarmos sempre propondo objetivos novos para que eles cumpram... Para os jovens temos incentivado tarefas como peças teatrais, novos grupos musicais, apoio na evangelização dos menores, a leitura e comentário de pequenas mensagens antes das palestras públicas... Para as crianças temos incentivado a apresentação de músicas infantis com coreografias, jograis com temas relacionados a determinada data ou tema antes das palestras públicas e até mesmo em dias exclusivos para essas apresentações.

Com isso percebemos que eles se sentem úteis, valorizados e acima de tudo estreita muito o relacionamento entre eles e os coordenadores e diretores. Sem contar que percebemos o interesse que eles tem em continuar nas tarefas da casa e a perda da timidez para estar a frente do público.

Postem aí as experiências de vcs galera!... assim podemos descobrir e aplicar novas idéias!!!

Abraço forte e carinhoso a todos!
Sader - Ubá, MG

Denis Soares disse...

Sader,

Acho que vc ja matou uma primeira e muito eficiente forma de estimular o jovem a estar no grupo espírita, a se envolver e se soltar: a arte.

É um investimento que geralmente vale muito à pena.

Roney disse...

Verdade, a arte é algo que sempre une as pessoas e na maioria das vezes dá certo.

Um grupo aqui de BH realiza encontros diferentes, um culto no lar e cada final de semana é na casa de um jovem... isto é algo bem interessante, pois todos passam a se conhecer mais, incluem a família, realizam um trabalho em grupo muito bacana... onde cria vontade de participar.

Anônimo disse...

"Uma relevante meta, a meu ver, é o desenvolvimento da espiritualidade no indivíduo". Essa frase, sinto eu, é a mais significativa do texto fomentador.

(A linguagem verbal é insuficiente para abordar o tema)

A questão central é RELIGIOSIDADE x ESPIRITUALIDADE.

o primeiro termo, extremamente vinculado à idéia de RELIGIÃO, vincula-se especialmente à determinada crença ou doutrina. Na experiência de religiosidade, a vivência de espiritualide pode ser alcançada. Pode. Porém, isso NÃO SIGNIFICA que todos os religiosos estão (ou estarão) no estado consciencial de espiritualidade.

O segundo termo relaciona-se ao que é da natureza do ser; independe de sistema de crença, não tem como premissa o seguimento de determindada doutrina. O indivíduo que vibra em espiritualidade não necessariamente tem de ser religioso.

Religiosidade implica seguir as idéias recebidas. Não segui-las é estar fora do que foi etiquetado como certo, divino, adequado, ideal. Não segui-las é estar no errado, pecaminoso, inadequado, imperfeito.

Espiritualidade é equação interna, pessoal e intransferível de conexão com a própria realidade, com o que se é. É SE SENTIR (e não apenas saber) COMO UMA DAS FORÇAS DA NATUREZA. Na vivência de espiritualidade, não há certo/errado, belo/horrendo, pode/não pode, existe apenas o "É", ou seja, observação no AGORA sem julgamentos. Não existe "sentir compaixão é bonito" ou "sentir ciúme é feio"; só existe "isso é compaixão" e "isso é ciúme". Observação das energias sem julgamento.

Talvez, o que têm acontecido no movimento jovem espírita é a insistente vivência de um padrão de RELIGIOSIDADE, baseado apenas em interpretações muito egóicas de alguns(incluo-me aqui) que SÓ ESTÃO CONVENCIDOS de que são ESPÍRITOS.

(continua...)

Anônimo disse...

(continuando...)

Estamos convencidos da existência de Deus, aceitamos filosoficamente Jesus como guia e modelo da humanidade e sabemos que somos espíritos. Porém, nós, que geralmente corremos para assumir as lideranças, não estamos CONVERTIDOS. Não estamos convertidos nas fibras mais íntimas do coração de que somos espíritos. Vivemos ainda numa interpretação mais superficial dos ensinamentos trazidos; julgamos a nós mesmos o tempo todo, massacrando-nos quando nos distanciamos daquelas etiquetas de "bom e belo" que aprendemos ao longo das infantis leituras. Fazemos o mesmo com nossos "amigos de mocidade". Não explicitamente, claro, mas nosso campo magnético exala julgamento: "Nesta questão eu me adequo e eles não... ufa... nisso eu sou melhor", "Nesta questão todos eles se adequam, menos eu... pobre de mim... como sou inferior...". E assim vai, ora inchando, sentindo-se a melhor das criaturas, ora murchando com a sensação de menos valia. Além disso, de modo imperceptível, transmitimos esse padrão para os jovenzinhos que chegam com o objetivo de conhecer a reunião semanal. Chegam e em poucas semanas se vão, pois não aguentam lidar com a sentimento de "Eu sou assim, mas assim não pode! Eu sou assado, mas assado não pode!".

Não fazemos isso porque somos maus ou estamos obsediados. Fazemos isso porque estamos iludidos. Ainda estamos meninos (Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. - I Coríntios:13:11). Vivemos em RELIGIOSIDADE acreditando plenamente estar no clima de ESPIRITUALIDADE. Ai, ai... Estamos iludidos, só isso.

Estar convencido de que se é ESPÍRITO é muito diferente de se estar convertido, como já nos ensinou o Sr. Honório. Quando estivermos convertidos, vibrando o lema paulino "não sou eu quem vivo, mas é o Cristo quem vive em mim"; quando, pela vivência plena da realidade espiritual, a qual certamente modificará nossa compreensão de Deus, Jesus e Leis da Natureza e, consequentemente, calará nossos egos julgadores/controladores; quando voltarmos para nossa origem, modificando nosso clima consciencial, vivendo Deus em nós, Cristo em nós e Natureza em nós, espontaneamente atrairemos energias de espíritos (em reencarnação e em erraticidade), os quais querem sublimar as verdades que carregam em si mesmos a fim de também deixarem de ser meninos. Isso é da Lei.

Beijo, Denis!!! Beijo, pessoal!!!

Com carinho,

luciana1857

Juliana disse...

Oi Denis!

Internet? Talvez... Mas acho que antes disso há algo que talvez esteja por trás da própria internet: a dificuldade relacional, face a face. De um lado a carência, de outro a intolerância, de outro ainda uma inabilidade. Enfim...

Talvez as mocidades estejam perdendo participantes não só porque existem outras atividades, mas porque principalmente falta uma linguagem que fale do cotidiano, que fale diretamente ao coração. Talvez falte À mocidade ser um lugar de acolhimento real, em que nas dificuldades relacionais desta era a pessoa possa encontrar laços maiores. Mas não só laços de coleguismo e brincadeiras. Laços de partilhar, laços de construção.

Existe um desafio para as mocidades e para todos os trabalhos grupais - dentro e fora da casa espírita - e acho que a coisa está andando por aí. O ser humano nunca esteve tão "conectado", e talvez também nunca esteve tão sozinho.

Impressões... Somente impressões.

Abraços!

Juliana
BH / MG

ambulatóriobezerrademenezes disse...

a pergunta que me faço nessa questão é a seguinte: por que eu me afastei da mocidade?

vou tentar tirar o tema de objeto de análise e falar da minha experiência. Acredito que ela acompanha de certa forma quase todas as reflexões acima.

quando falo de afastamento na minha experiencia não digo só presencialmente, o que também aconteceu, mas também daquele distanciamento que vc sente de dentro, que te faz incluso, mas não pertecente ao grupo.

posto isso observo que duas coisas me afastaram do grupo de jovens.

a primeira delas diz respeito a participação nas mocidades. quando entrei na mocidade o fiz com muita empolgação. meus primeiros desgates surgiram, no entanto, por que eu me sentia isolado no grupo, sem oportunidades de dizer o que eu pensava. Por exemplo era hábito na mocidade que eu frequentava divulgar uma semana antes a palestra que seria a seguinte. Eu, então, por vezes, estudava aquele tema, lia a bibliografia indicada e tudo. Quando chegava lá no dia, no entanto, não podia falar nada. Tinha que assistir a palestra que muitas vezes não correspondia com nada do que eu tinha estudado e sem poder questionar, concordar, discordar...ou seja tinha que ficar inerte recebendo informações que por vezes sentia que nem mesmo o cara que tava falando acreditava.. eu tinha que ser ouvinte.. na época tinha 15 16 anos e tudo que eu queria era tirar as dúvidas sobre os temas espiritas compartilhar impressões e tal, enfim crescer...trazer isso pra minha vivencia. Dessa forma me sentia fora daquilo, porque naquele espaço de convivencia não tinha a possibilidade de expressar o que sentia..dai tive duas possibilidades: ou me enquadrar naquele molde que eu estava vendo e, por conseguinte, me enquadrar no grupo, ou me afastar, já que aquele espaço pouco aberto me sufocava.. pouco autêntico na época optei pela primeira opção e me frustei mais ainda anos depois.. corroborando quase com um rompimento total até mesmo com o espiritsmo.

to be continued...

ambulatóriobezerrademenezes disse...

uma segunda coisa que me afastou é que eu não sabia e sentia se aquelas pessoas com quem eu lidava na mocidade eram reais. esse molde que eu mesmo começei a vivenciar algum tempo depois me fazia sentir novamente sufocado, distante das pessoas. por vezes pensava se era só eu tinha que problema, dificuldades intimas e tal, porque naquele ambiente posturas como de orgulho e vaidade eram colocadas como distantes, externas, não pertercentes a nós. Ou somente era citados que tinhamos, mas ninguem falava tipo ontem eu fui egoista na mocidade, ou fui orgulhoso quando respondi mal a ciclano. Ou me enchi de vaidade com os elogios com a forma que eu toquei aquela musica.. eu era informado que todos tinhamos defeitos, mas ninguem se expunha..as relações eram superficiais... ao longo do tempo aprendi a fazer isso tb.. nunca me senti tão longe de mim tão longe das pessoas encaixados nesse padrão..

aos poucos, por pancadas da vida, fui tomando consciencia do quanto distante do que sou estava, insuflado por padroes mentais de certo e errado que vivenciava e que como metralhadora atirava nos outros em jugamentos profundos. naturalmente fui me distanciando desse ambiente, ou, se estando presente, tentando buscar algo mais por trás da doutrina espirita, algo mais essencial nas relações intimas que se formam no movimento..´tudo isso motivado por dores da vida...e por acontecimentos externos que me fizeram perceber como as minhas relações eram superficiais, pois com a mesma intensidade que julgava o que era ceto e errado fui julgado pela "comunidade espirita" quando, explodindo, agi diferente de padrões esperados...perdi "amigos", "respeito" fui tachado de "desequilibrado" "falso" e etc.. nenhuma mentira... na verdade eu era tudo isso mesmo...não pelos motivos que estava sendo julgado, mas pelos anos de máscara vivenciados...

ainda estou nesse processo de descoberta intima.. e passando constantemente por difilcudades que ora me convidam pro trabalho e que ora me repelem da casa espirita..


isso foi o que me afastou da mocidade.. são esses os motivos que consigo compreender por estar ligado a minha experiência.. acho que isso pode ter a ver com outras experiencias... talvez aliados a essas outras experiencias de quem se afastou da mocidade no período da juventude, possamos começar a ter noção de qual é o real problema que enfrentamos..

abraços

Vini