terça-feira, 2 de novembro de 2010

Meu "camarada" finado

Hoje, 2 de novembro, celebra-se o "Dia dos Finados", ou "Dia dos Fiéis Defuntos".

No seio da tradição católica, a celebração remonta às mortes dos mártires do cristianismo, cuja memória era cultuada pelos seguidores sobreviventes do Cristo, que assim se encorajavam ante as adversidades descortinadas para os crentes da primeira hora.

Mas esse culto não foi exatamente uma novidade. Mesmo os romanos tinham no culto aos antepassados importante prática social (confira clicando aqui). Com essa convicção, fica clara a crença na continuidade da vida após a morte do corpo.

A própria lógica do feriado de finados deriva da crença de que a morte não põe fim à vida. Lembramos as almas afins que nos deixaram porque acreditamos na possibilidade de conexão com elas, direcionando, assim, o nosso respeito, saudade, admiração, lembrança...

Ou seja, a sobrevivência do espírito é ideia largamente aceita, há muitos séculos e pela maioria das crenças. O que Kardec fez, e com maestria, foi sistematizar o entendimento, dar nomes, compreender melhor os fenômenos, e demonstrar que a sobrevivência da alma e a reencarnação, por exemplo, existem para cumprir uma finalidade Divina e obedecem às leis naturais.

A propósito, cabe assinalar que o inglês Thomas More, no livro "Utopia", publicado em 1516, assim narrou sobre Utopia (uma cidade imaginária, centro das narrativas do referido livro, e que seria um local muito melhor do que o que se conhecia na Terra):

"Quase todos os utopianos alimentam a convicção íntima de que uma felicidade imensa aguarda o homem além-túmulo. É por isso que choram pelos doentes e jamais pelos mortos, excetuando o caso em que o moribundo deixa a vida inquieto ou a contragosto."

"Os mortos (...) assistem às conversações dos vivos, ainda que invisíveis ao pequeno alcance dos olhos dos mortais."

"Por conseguinte, segundo as idéias utopianas, os mortos se misturam à sociedade dos vivos e são testemunhas de suas ações e palavras."

Muito bem. Eis a característica da Verdade. Ela será revelada a todo o tempo, por toda a fonte, e retumbará cheia de sentido, dentro de nós.

Assim, nós, que acreditamos na continuidade da vida após a morte, podemos lembrar das almas queridas e já falecidas com especial carinho no dia de hoje. Não cultuamos túmulos, mas lembranças e vida, de quem, não duvidamos, segue vivo em algum outro lugar.

Podemos fazer isso, quem sabe, reverberando os versos da linda música "Camarada", da autoria de Willi de Barros, que às vezes parece reproduzir um dialogo entre nós e aquele nosso camarada já desencarnado, mas que sentimos perto de nós:

"Já não lembro de você
Seu rosto se dissolveu na memória
Mas com te esquecer?
Como não te lembrar dentro do coração?

E quando parti deixei
Tesouros de afeição no caminho
Difícil é descrever
A saudade que vem se me sinto sozinho

Espera, meu amigo, que um dia ainda vou voltar
Às vezes imagino quando é que eu vou te reencontrar, te reencontrar...
Tenho tanto pra te contar do que aprendi aqui
Mas sei que nem preciso porque estás bem aí, perto de mim

Meu amigo do peito, camarada
Amigo do peito, camarada..."

Esa música tem uma belíssima gravação no CD "Tempo Dominó, da nossa amiga Cacau. Para os que não conhecem, fiz o vídeo a seguir. Para baixar a cifra, clique aqui (está um tom abaixo do tom que eu toquei no vídeo).



PS: Fico devendo um post sobre o livro "Utopia" e sua perfeita compatibilidade, ao meu ver, com a Doutrina Espírita.

11 comentários:

Vanêssa disse...

Hoje me lembrei que foi justamente num 2 de novembro, que assiti a primeira reunião de estudos numa casa espírita. Lá se vão longos anos de conforto e esclarecimento.
Excelente post.
Bjs

Anônimo disse...

Pois é... Lembrei-me de você comentando sobre o livro "Utopia", Denis... Fiquei com vontade de lê-lo depois de sua postagem... Lembrei-me também de nossas conversas sobre "O Poder do Mito", obra que também tem muito a ver com o clima "deus-morte-de-2-de- novembro". Lembrei-me ainda de uma área na Psicologia que se chama Tanatologia, conhece?! É um ramo da ciência que se dedica especialmente aos estudos sobre a MORTE (isto é, sobre a vida!)... Muitos Tanatologistas têm se dedicado a quebrar o tabu que foi criado ao longo da história da humanidade com relação a esse tema; tabu este que fez com que morrer se transformasse, de certa forma, em erro, em imperícia ou em fracasso. Eles têm feito um trabalho muito lindo, uma vez que alguns deles se especializam em auxiliar pacientes terminais a fazerem com leveza e naturalidade a inevitável passagem, outros se voltam à sustentação dos corações que sentem o luto e ainda há aqueles que se dedicam à conscientização das pessoas, transmitindo, por meio de workshops e seminários, o que aprenderam com os que estão morrendo... Ai, ai... Muito sensível seu texto... Gratidão por compartilhar conosco. Ai, ai... Na mente e no coração, reaviva-se a pergunta: "Estou pronta para morrer?!". Beijo no coração.

luciana1857

Julio Dario disse...

Fala meu camarada...
Pois é.. interessante esse livro... vou colocar na minha lista de proximas leituras.. é muito bom isso :)
Entre os diversos beneficios de se estudar a doutrina espirita acho que o mais consolador é saber que aquela pessoa querida que veio a desencarnar não morreu pra sempre, só se tornou invisível a nossos olhos materiais... o importante do dia de finados é que possamos justamente lembrar dessas pessoas em vida e endereçar sentimentos bons nada ligado a culpas, remorsos, ou mesmo ficar com um culto exacerbado de corpo, e com sentimentos de perda o que pode até prejudicar o espirito desencarnado.
Muito legal o post e adorei a musica.. ja conhecia na voz da cacau ;) mto linda!
Abraços mano!

Prof. Mauro Ribeiro disse...

"Hoje busquei lembranças daquele tempo passado, guardadas estão, em meu coração..."

Belíssima mensagem, como sempre.

Grande abraço!

Cris Garcia disse...

O dia de finados deste ano foi um tanto diferente para mim. Sempre tido como respeitoso e triste (expressões que vem com tempo se diluindo, com o conforto da doutrina espírita em meu lar), este ano se apresentou em rumores de alegrias e saudação a uma nova vida.

Este ano algo de emoção e sensibilidade por todo o dia me envolveu. Tive em minha mente as lembranças de meus queridos avós que não mais dividem conosco este tempo na matéria, Foram lembranças serenas, que me fizeram sentir abraçada por todo o dia.
Tenho enorme alegria pelos caminhos que tenho descoberto através da doutrina e agradeço a cada instante pelo carinho e paciência dos amigos que vem nos acompanhar os passos.

Bela lembrança amigo Mauro!
Hoje busquei lembranças daquele tempo passado, guardadas estão em meu coração..."

Belo post.

Abraços!!

Cris.

Denis Soares disse...

Vanessa,

Esse dia de finados deve ter sido há uns 10 anos, quando vc tinha 18 ;)

Mas que legal, depois vc podia contar essa história inteira p gente!

Pessoal eu acho que Utopia é o melhor livro "não-espírita" que já li até hj. Recomendo e muito!

E de resto, acho que o objetivo é o que a Cris disse, viver a data com essa eveza, outra compreensão. Aos poucos a gente caminha e vai enraizando o aprendizado no nosso dia a dia...

"Saudade não vai embora, não..." Porque saudade é o amor que não morre.

Bjos, queridos!

Breno disse...

"Meu amigo do peito, camarada ..." Ah meus tempos de mocidade...

Willi disse...

:-) O google tinha que colocar uma ferramenta "I like" igual a do facebook. Um forte abraço.

Lourdes disse...

Ameiii essa músicaa! Não paro de escutar ela aqui...

Denis Soares disse...

Camarada é demais, como tantas músicas do Willi! mexe com a gente.

Willi, sugestão anotada, acho que já tem jeito de colocar essas coisas do tipo "I like", vou procurar ver.

E tempos de mocidade, Breno... por isso que eu não cresço, hehehe... é bom demais.

Abraços, queridos!

Jussara - RRA 3ª RF disse...

"livro "Utopia" e sua perfeita compatibilidade, ao meu ver, com a Doutrina Espírita"...

Concordo contigo!

E me recordei de quando estudei esse livro como paradidático na escola. Nos estudos do livro, me lembro da professora tentando me convencer de que algo tão perfeito por si só já era um problema... nunca entendi bem o ponto de vista dela, eheheh...

E eu nem era espírita (ou, ainda não sabia que era, hehehe...).

Beijos...